A verdadeira religião leva ao outro.

 

2014-12-19 Rádio Vaticana

 

Cidade do Vaticano (RV) - “Deus quis salvar-nos na história” – afirmou o Papa na homilia desta manhã na Casa Santa Marta. A nossa salvação “não é asséptica, de laboratório. Não! É histórica. E para chegar ao ponto de hoje, houve uma longa, uma longuíssima história”:

“E assim, passo a passo, se faz a história. Deus a faz, nós a fazemos; e quando nós erramos, Deus a corrige e nos leva avante, avante, sempre caminhando conosco. Se não entendermos isso claramente, jamais entenderemos o Natal! Jamais entenderemos a Encarnação do Verbo! Jamais! É toda uma história que caminha. ‘Padre, com o Natal esta história acaba?’; ‘Não! O Senhor ainda nos salva na história. E caminha com o seu povo’”.

Nesta história – prosseguiu o Papa – existem os eleitos de Deus, aquelas pessoas que Ele escolhe “para ajudar o seu povo e ir avante”, como Abraão, Moisés e Elias. Para eles, “há alguns momentos obscuros, incômodos, que incomodam”. Pessoas que talvez queiram viver tranquilas, mas que o “Senhor incomoda. O Senhor nos incomoda para fazer a história! Nos fazer percorrer caminhos que não queremos”. A ponto que Moisés e Elias desejam morrer, mas depois confiam no Senhor.

O Evangelho do dia fala de “outro momento difícil na história da salvação”, quando José descobre que a sua noiva, Maria, está grávida: “Ele sofre, vê as mulheres do vilarejo que comentam no mercado; e sofre. ‘Mas ela é boa pessoa, eu a conheço! É uma mulher de Deus. Mas o que ela me fez? Não é possível!”. Se for acusada, será lapidada. Mas José não quer, mesmo não compreendendo. Ele sabe que Maria “é incapaz de infidelidade”. “Nesses momentos difíceis, destacou o Papa – “os eleitos de Deus, para fazer a história, devem enfrentar o problema, mesmo sem entender. Assim, o Senhor faz a história”.

“Assim fez José, o homem que no momento mais difícil da sua vida, no momento mais tenebroso, enfrenta o problema. E ele acusa a si mesmo aos olhos dos outros para proteger a sua esposa. Talvez algum psicanalista dirá que este sono é o condensado da angústia, que busca uma saída… mas digam o que quiserem. O que fez José? Depois do sono, acolheu a sua esposa. ‘Não entendo nada, mas o Senhor me disse isso e este será meu filho!’”.

“Fazer história com o seu povo - observou o Papa - significa para Deus para caminhar e testar os seus eleitos”. Mas no final os salva: “Lembremo-nos sempre, com confiança, também nos piores momentos, também em momentos de doença, quando percebemos que temos de pedir a extrema unção, porque não há saída, de dizer: ‘Mas, Senhor, a história não começou comigo e não vai acabar comigo! O Senhor vai na frente, eu estou disposto’. E colocar-se nas mãos do Senhor”. O que nós ensinam, então, os eleitos de Deus?

“Que Deus caminha conosco, que Deus faz história, que Deus nos prova e que Deus nos salva nos piores momentos, porque ele é nosso Pai. E de acordo com Paulo é o nosso Pai. Que o Senhor nos faça compreender este mistério de seu caminhar com o seu povo na história, do seu colocar à prova os seus eleitos, e a grandeza do coração de seus eleitos, que tomam sobre si as dores, os problemas, também a aparência de pecadores - pensamos em Jesus - para levar para avante a história”.

(BF)

 

A verdadeira religião leva ao outro. 

A vida de alguém será considerada bem sucedida não pelos filhos que tenha gerado, nem pelos títulos acadêmicos que possa ter obtido, e muito menos pela riqueza que possuir. Uma vida realizada será assim considerada por Deus se a pessoa lutou por um mundo justo e fraterno, se empregou seu tempo, seus conhecimentos, sua saúde para eliminar situações em que seus irmãos se sentiam marginalizados e se não foram nem cúmplices e nem coniventes com as opressões. Cristo é  Rei e Senhor porque na luta contra o mal venceu a tentação do acúmulo, da abundância e do pretígio.

(Cesar Augusto dos Santos SJ)

 

Domingo III do Advento

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo: «João é a voz, Cristo é a Palavra»

João era a voz, mas o Senhor era a Palavra desde o prin¬ cípio. João era uma voz passageira; Cristo era desde o princípio a Palavra eterna. Sem a palavra, que vem a ser a voz? Vazia de qualquer sentido inteligível, não é mais que um simples ruído. A voz sem a palavra entra nos ouvidos, mas não chega ao coração.

Entretanto, vejamos o que sucede na comunicação do nosso pensamento. Se penso no que vou dizer, já está a palavra presente em meu coração; mas se pretendo falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu. Então, para conseguir que chegue a ti e cale em teu coração a palavra que já está no meu, recorro à voz e, mediante ela, falo contigo. O som da voz leva ao teu espírito o sentido da minha palavra; e quando o som da voz te fez chegar o sentido da minha palavra, esse mesmo som desaparece; mas a palavra que o som te transmitiu está já em ti sem deixar de permanecer em mim. Não te parece que esse som que te comunicou a minha palavra está dizendo: Convém que ela cresça e eu diminua? O som da voz fez-se sentir para cumprir a sua tarefa e desapareceu, como se dissesse: Com isto a minha alegria está completa. Retenhamos a palavra; não percamos essa palavra concebida no mais íntimo do nosso coração. [...]

Que quer dizer: Preparai o caminho, senão: «Suplicai insistentemente»? Que quer dizer: Preparai o caminho, senão: «Sede humildes de coração»? Imitai o exemplo de humildade de João Baptista. Consideram-no o Messias, mas ele responde que não é o que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se houvesse dito: «Eu sou o Messias», facilmente teriam acreditado na sua palavra, pois que já o tinham como tal antes de o haver dito. Mas não disse; antes, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Compreendeu donde lhe vinha a salvação; compreendeu que não era mais que uma tocha ardente e luminosa, e receou que o vento da soberba a pudesse apagar.

Sermo 293, 3: PL 1328-1329 (Sec. V)