O silêncio fora e dentro de nós!!!

Fonte.

Desde a sua juventude, Pedro Angelerio foi um "investigador de Deus", um homem desejoso de encontrar respostas às interrogações mais importantes da existência: quem sou, de onde venho, por que vivo, para quem vivo? Ele começa uma viagem em busca da verdade e da felicidade, põe-se à procura de Deus e, para ouvir a sua voz, decide separar-se do mundo e viver como eremita. Assim, o silêncio torna-se o elemento que caracteriza o seu viver quotidiano. E é precisamente no silêncio exterior, mas sobretudo no silêncio interior, que ele consegue ouvir a voz de Deus, capaz de orientar a sua vida. Eis um primeiro aspecto importante para nós: vivemos numa sociedade em que cada espaço, cada momento parece que deve ser "preenchido" com iniciativas, actividades e sons; muitas vezes não há tempo sequer para ouvir e para dialogar. Prezados irmãos e irmãs! Não tenhamos medo de criar o silêncio fora e dentro de nós, se quisermos ser capazes não só de ouvir a voz de Deus, mas também a voz de quem está ao nosso lado, a voz dos outros.

Mas é importante ressaltar inclusive um segundo elemento: a descoberta do Senhor, feita por Pedro Angelerio não é o resultado de um seu esforço, mas torna-se possível por meio da própria Graça de Deus, que o antecipa. Aquilo que ele possuía, aquilo que ele era não derivava de si mesmo: foi-lhe oferecido, era uma graça e por isso era também uma responsabilidade em relação a Deus e ao próximo. Não obstante a nossa vida seja muito diferente, também para nós é valida a mesma coisa: todo o essencial da nossa existência nos foi oferecido, sem a nossa contribuição. O facto de eu viver não depende de mim; o facto de que houve pessoas que me introduziram na vida, que me ensinaram o que significa amar e ser amado, que me transmitiram a fé e me abriram o olhar para Deus: tudo isto é graça e não é "feito por mim". Sozinhos, nada poderíamos fazer se não nos tivesse sido doado: Deus antecipa-nos sempre, e na vida de cada indivíduo há uma beleza e uma bondade que nós podemos reconhecer facilmente como sua graça, como raio de luz da sua bondade. Por isso, temos que estar atentos, manter sempre abertos os "olhos interiores", os olhos do nosso coração. E se nós aprendêssemos a conhecer Deus na sua bondade infinita, então seríamos capazes também de ver, com admiração, na nossa vida – como os Santos – os sinais daquele Deus, que está sempre perto de nós, que é sempre bom connosco, que nos diz: "Tem fé em mim!".

No silêncio interior, na percepção da presença do Senhor, Pedro de Morrone tinha amadurecido inclusive uma experiência viva da beleza da criação, obra das mãos de Deus: sabia captar o seu sentido profundo, respeitava os seus sinais e ritmos, e utilizava-os naquilo que é essencial para a vida. Sei que esta Igreja local, assim como as demais dos Abruzos e de Molise, estão activamente comprometidas numa campanha de sensibilização em vista da promoção do bem comum e da salvaguarda da criação: encorajo-vos neste esforço, exortando todos a sentir-se responsáveis pelo próprio futuro, assim como pelo futuro dos outros, respeitando e tutelando também a criação, fruto e sinal do Amor de Deus.

Na segunda leitura, tirada da Carta aos Gálatas, ouvimos uma linda expressão de São Paulo, que é também um retrato perfeito de São Pedro Celestino: "Quanto a mim, Deus me livre de me gloriar, a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo" (6, 14). Verdadeiramente, a Cruz constituiu o centro da sua vida, deu-lhe a força para enfrentar as penitências ásperas e os momentos mais exigentes, desde a juventude até à última hora: ele estava sempre consciente de que a salvação provém dela. A Cruz conferiu a São Pedro Celestino também uma clara consciência do pecado, acompanhada sempre por uma consciência igualmente clara da misericórdia infinita de Deus pela sua criatura. Vendo os braços abertos do seu Deus crucificado, ele sentiu-se levado ao mar infinito do amor de Deus. Como sacerdote, fez experiência da beleza de ser administrador desta misericórdia, absolvendo os penitentes do pecado e, quando foi eleito para a Sé do Apóstolo Pedro, quis conceder uma indulgência particular, denominada "O Perdão". Desejo exortar os sacerdotes a tornar-se testemunhas claras e credíveis da boa notícia da reconciliação com Deus, ajudando o homem contemporâneo a recuperar o sentido do pecado e do perdão de Deus, para experimentar aquela alegria superabundante de que o profeta Isaías nos falou na primeira leitura (cf. Is 66, 10-14).