Elogio da mansidão

 

2013-04-10 L’Osservatore Romano

A tentação de falar mal dos outros e de agredi-los com  palavras está sempre à espreita. Também em família, entre amigos e na paróquia «onde as senhoras da catequese lutam contra aquelas da Cáritas». Estas «são tentações diárias»  –  «inimigas da mansidão» e da unidade entre as pessoas e na comunidade cristã  –   «que acontecem a todos, inclusive a mim». E precisamente contra esta atitude o Papa Francisco alertou durante a celebração da missa, na manhã de terça-feira 9 de Abril, na capela da Domus Sanctae Marthae.

O Pontífice indicou o caminho da mansidão evangélica para deixar ao Espírito a possibilidade de trabalhar e de nos revigorar para uma «nova vida» feita de unidade e amor. «Peçamos a graça», disse, de «não julgar ninguém» e de aprender a «não falar mal» dos outros por trás – seria «um grande passo em frente»  –  procurando «ser caridosos uns com os outros», «respeitosos» e deixando com humildade o «lugar ao outro».

Com o Santo Padre concelebraram, entre outros, os monsenhores Luigi  Mistò, secretário da Administração do Património da Sé Apostólica e presidente do conselho de administração do Fundo de Assistência à Saúde, e Paolo Nicolini, delegado para os sectores administrativo-gerencial dos Museus do Vaticano, no vigésimo quinto aniversário de sacerdócio.

Estavam também presentes Giovanni Amici, director dos serviços gerais do Governatorado do Estado da Cidade do Vaticano, e Paolo Sagretti, floreiro, com os representantes dos serviços de motorização, do trânsito de mercadorias e da «floreria», e os membros do conselho de administração do Fundo de Assistência à Saúde com os funcionários.

«Na oração no início da missa   –   disse o Pontífice na homilia – pedimos ao Senhor que, através da força de Jesus ressuscitado, manifeste ao mundo a plenitude da vida nova. Depois da ressurreição de Jesus, começa uma vida nova: foi quanto disse Jesus a Nicodemos. Temos que “nascer do alto”, começar». Nicodemos – explicou o Papa Francisco fazendo referência ao trecho do Evangelho de São João (3, 7-15)  –   «é um homem estudioso. Um pouco antes, no Evangelho, tinha respondido a Jesus: mas como pode um homem nascer de novo, voltar ao ventre da sua mãe e nascer de novo? Jesus falava de outra dimensão: «nascer do alto», nascer do Espírito. É um novo nascimento, é  nova vida, o poder, a beleza da nova vida que pedimos na oração. É a nova vida que recebemos no Baptismo, mas que se deve desenvolver».

«Devemos fazer tudo  – afirmou ainda o Papa – a fim de que aquela vida se desenvolva na nova vida. E como será, esta nova vida? Não é que hoje dizemos: “Sim, hoje nasci, acabou, inicio de novo”. É um caminho, é um percurso difícil, é necessário trabalhar para o fazer. Mas é também um caminho que não depende apenas de nós: depende principalmente do Espírito, e nós devemos abrir-nos ao Espírito para que Ele realize em nós esta nova vida».

«Na primeira leitura – disse o Papa Francisco ao comentar o trecho dos Actos dos Apóstolos (4, 31-37) da liturgia hodierna   –   é como se tivéssemos uma antecipação, uma antestreia sobre o que será a “nova vida”, o que deve ser a “nova vida”. A multidão daqueles que se tinham tornado crentes tinha um só coração e uma só alma. Uma alma, um coração: a unidade, aquela unidade, aquela humanidade, aquela harmonia dos sentimentos no amor, o amor recíproco. Aquele pensar que “os outros são melhores do que eu”: isto é bonito, não é?».

«Mas a realidade – explicou o Pontífice – revela-nos que isto, depois do Baptismo, não acontece automaticamente. Este é um trabalho que deve ser feito no caminho da vida, é um trabalho a ser feito pelo Espírito que está em nós e é fidelidade ao espírito da nossa parte». E «esta mansidão na comunidade é uma virtude um pouco esquecida. Ser manso, dar lugar ao outro. Existem muitos inimigos da mansidão, a começar pelo mexerico, não é assim? Quando se prefere palavrear, falar mal do próximo, ferir um pouco o próximo. São factos quotidianos que acontecem a todos, também a mim».

«São tentações do maligno – continuou – que não quer que o Espírito venha a nós e faça esta paz, esta mansidão nas comunidades cristãs. Vamos à paróquia, e as senhoras da catequese lutam contra as da Cáritas» E «existem sempre estas lutas. Inclusive em família e no bairro. Mas também entre amigos. E esta não é a vida nova. Quando  o Espírito vem,   faz-nos nascer numa nova vida, faz-nos mansos, caridosos. Não julga ninguém: o único Juiz é o Senhor». Eis então a sugestão a «estar calado. E se devo dizer  algo, devo dizê-lo a ele,  a ela: ma não ao bairro inteiro. Mas só a quem pode remediar a situação».

«Isto – concluiu o Papa Francisco – é apenas um passo na vida nova, mas é um passo quotidiano. Se, com a graça do Espírito, conseguirmos não falar mais mal do outro, será um bom progresso. E fará bem a todos. Peçamos ao Senhor que manifeste a nós e ao mundo a beleza e a plenitude desta vida nova, deste nascer no Espírito que vem na Comunidade dos fiéis e nos leva a ser mansos, a ser caridosos uns com os outros. Respeitosos. Peçamos esta graça a todos nós».